“Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”. (Martinho Lutero)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Disputas Ideológicas: Deixem Jesus fora disso!

Ideologias
Jesus carregando Sua cruz, sendo observado por alguns dos protagonistas da História,
entre eles pensadores, políticos, religiosos, cientistas.


 
A figura de Cristo nunca esteve tão em evidência. Todas as ideologias querem-no como seu garoto propaganda. E assim, Sua mensagem vai se adequando à agenda política de cada grupo.

Não se trata de um fenômeno recente. O próprio Império Romano, através de Constantino, quis associar-se à imagem de Cristo. De repente, o carpinteiro de Nazaré latinizou-se, vestiu toga romana, e teve Suas palavras usadas para justificar as investidas imperiais. Sua cruz passou a ser estampada nos escudos dos soldados. “Por este sinal vencerás!” teria ouvido o imperador numa visão. A mesma cruz estampou os peitorais e escudos dos soldados que lutaram nas Cruzadas, sob o comando do Papa, sob o pretexto de se combater o avanço do Islã e recuperar territórios perdidos. À época, o pontífice romano abonou a morte de qualquer seguidor de Maomé, desde que fosse “pela causa da Santa Igreja”. Foi esta mesma cruz que estampou as velas dos navios dos conquistadores das Américas, que dizimaram povos indígenas, e pilharam impérios milenares supostamente em nome dos interesses da Cristandade.


Nem Adolf Hitler abriu mão de associar sua ideologia à imagem e mensagem de Cristo. Confira abaixo algumas de suas frases acerca da fé cristã. O Führer demonstrava acreditar que o cristianismo era “a fundação inabalável da moral e do código moral da nação”. Dizia, ainda, que o Governo do Reich estava decidido a empreender a purificação moral e política da vida pública alemã, criando e assegurando as condições necessárias para uma renovação profunda da vida religiosa. “Como cristão”, dizia Hitler, “tenho a obrigação de lutar pela justiça e justiça”. Justificando a sua pérfida luta contra os judeus, ocasionando na morte de cerca de 6 milhões deles, ele teria dito: “Hoje acredito que estou agindo de acordo com a vontade do Criador Todo-Poderoso: – ao defender-me contra os judeus, estou lutando pelo trabalho do Senhor. ” Ele se considerava um escolhido de Deus, para iniciar no mundo um período de mil anos de paz, conhecido entre os cristãos como o Milênio. Um dos símbolos usados pelo nazismo era… adivinha? A cruz. A chamada “Cruz de Ferro” também era usada como adorno em escudos e espadas dos Cavaleiros Templários.

Deu no que deu… Milhões de mortos em nome de um nacionalismo estúpido e cego.

A figura de Jesus não cabe dentro de qualquer arranjo ideológico. Sua mensagem transcende as utopias, subverte o
establishment e desafia o mais insólito dos ideais humanos.

Tentar domesticá-lO é perda de tempo.


Ele não Se presta a ser garoto propaganda do socialismo, tampouco do capitalismo. Também não é cabo eleitoral de candidatura alguma. Não ousem conferir tom partidário à Sua mensagem. E duvido que Ele se prestasse a empunhar uma bandeira étnica ou homofóbica. Ele tem Sua própria agenda.


Toda vez que Sua mensagem é diluída numa ideologia qualquer, perde sua essência e eficácia.


Jesus não é nacionalista, nem comunista, nem cubano, nem americano, nem romano, ou mesmo brasileiro, como temos o costume de dizer. Ele é Deus! Rei dos reis, Senhor dos senhores. Os regimes políticos, bem como as ideologias que os justificam tendem a corromper-se, mas os ideais do Reino de Deus permanecem para sempre.

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O Evangelho segue seu fluxo pela História. Regimes tentaram represá-lo. Outros acharam que podiam encaná-lo. Outros quiseram engarrafá-lo. Mas ele segue sua própria calha, ora morro acima, ora morro abaixo, ora na superfície, ora no subterrâneo, ora caudaloso e rebelde, ora manso e tranquilo.
Cada sistema lidou com o Evangelho da maneira como lhe foi conveniente. Governos totalitaristas tentaram enjaulá-lo. Democracias procuram amansá-lo e, às vezes, levá-lo ao picadeiro para ridicularizá-lo. Alguns preferiram encerrá-lo no Museu, alegando ser coisa do passado. Mas nenhum pode ficar indiferente à sua subversividade latente.

Não queiram canonizar Karl Marx, nem beatificar Max Weber. Mas também não os demonizem. Qualquer tipo de extremismo é perigoso, pois cega o discernimento. Não comprem pacotes fechados. Atendamos à recomendação de Paulo:
“Examinai tudo. Retende o bem” (1 Ts. 5:21). Mesmo da boca do mais perverso dentre os homens, podemos, eventualmente, ouvir algo que edifique. Assim como da boca do mais santo dentre eles, pode-se ouvir palavras destruidoras. O mesmo Pedro que ouviu de Jesus que sua confissão fora inspirada pelo Espírito de Deus, minutos depois foi repreendido por emprestar seus lábios ao maligno para dissuadir Jesus do cumprimento de Sua missão.

Algumas ideologias acertam em seu diagnóstico, mas prescrevem o remédio errado, e vice-versa. Daí o risco de associar a mensagem de Jesus a qualquer que seja a ideologia. Se falharem, será a credibilidade do Evangelho que estará em xeque.


Recentemente, o jornalista americano Joseph Lelyveld lançou uma biografia de Mahatma Gandhi em que diz que o líder indiano era gay e abandonou sua mulher para viver um tórrido romance com o arquiteto alemão de origem judaica Hermann Kalleubach. Pode ser que isso seja verdade, como pode ser que seja apenas sensacionalismo barato para alavancar as vendas do livro. De qualquer maneira, não será isso que impedirá que eu continue admirando o homem que conduziu a Índia à independência, e que é considerado o pai do pacifismo. Tenho aprendido a separar as coisas...


Tenho profunda admiração por alguns ícones da nossa história, independente do credo que confessavam, ou da ideologia que defendiam. Posso admirar seus ideais, sem com isso ser obrigado a aderir à sua ideologia. Todos esses eram pecadores, tanto quanto eu. O fato de admirá-los não significa que devo construir-lhes um altar em meu coração. O único a ocupar esta posição é Cristo. Admiro qualquer ser humano naquilo em que mais se parecem com Jesus.


Por Hermes C. Fernandes

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A CONFUSÃO EVANGÉLICA DIANTE DO ANTIGO TESTAMENTO


A igreja evangélica brasileira é uma das mais dinâmicas e criativas do mundo. Por essa razão seu crescimento tem sido extraordinário. Todavia, uma igreja jovem e efervescente tem dificuldades de doutrinar e discipular seus novos membros. Essa é uma realidade na igreja brasileira.

É notório que o uso do Antigo Testamento na prática e na liturgia eclesiástica brasileira tem crescido de maneira substancial. Principal no contexto de louvor e adoração a ênfase vétero-testamentária é mais do que expressiva. E como percebeu Lutero, a teologia de uma igreja está em seus hinos. Afinal, o que está acontecendo? Para onde estamos indo?

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que o Antigo Testamento representa um fascínio para o povo brasileiro. É repleto de histórias concretas, circunscritas na vida real do povo, no cotidiano de gente comum. É muito mais fácil emocionar-se com uma narrativa como a de Jonas ou de Davi do que acompanhar o argumento de Paulo em vários textos de Romanos. Além disso, o povo brasileiro tem pouca história e raízes muito recentes. O Antigo Testamento, com a rica história do povo de Israel, traz uma espécie de identificação com o povo de nosso país. Talvez isso explique porque tantos brasileiros evangélicos queiram ou procurem ser mais judeus. Em terceiro lugar, devemos considerar a realidade de que a igreja evangélica brasileira quase não tem símbolos ou expressão artística. A maioria dos símbolos cristãos históricos (catedrais, cruzes, etc.) tem identificação católica na realidade nacional. Assim, os evangélicos buscam símbolos para expressar sua fé, e acabam geralmente escolhendo símbolos judaicos ou véterotestamentários (menorá, estrela de Davi, e etc.).

Este encontro brasileiro-judaico tem muitas facetas positivas: Retomamos uma alegria comemorativa da fé, trazemos a verdade espiritual para a realidade concreta, dificilmente teremos uma igreja anti-semita, enxergamos necessidades sociais e políticas pela força do AT. Todavia, também estamos andando em terreno perigoso e delicado. Algumas considerações são importantes para que a igreja brasileira não perca o rumo por problemas de ordem hermenêutica. Aqui vão algumas sugestões:

1. Nem todo texto bíblico do AT pode ser visto como normativo. A descrição da vida de um servo de Deus do AT não é padrão para nós sempre. Quando Abraão mente em Gênesis, a descrição do fato não o torna uma norma. A poligamia de Salomão, a mentira das parteiras no Egito e o adultério de Davi não podem servir de desculpas para os nossos pecados.

2. Não podemos cantar todo e qualquer texto do AT. É preciso observar quem está falando no texto bíblico. Sem observarmos quem fala tiraremos conclusões enganosas. Isso é fundamental para se entender o livro de Eclesiastes. No caso de Jó 1.9-10, por exemplo, temos registradas as palavras de Satanás. Isto é fato até no caso do Novo Testamento (veja Jo 8.48).

3. Devemos Ensinar que Muito da Teologia do AT é ultrapassada. Jesus deixo claro que estava trazendo uma mensagem complementar e superior em relação à antiga aliança. Se não entendermos isto, voltaremos ao legalismo farisaico tão questionado por nosso Senhor. Textos como Números 15.32,36 revelam um exemplo daquilo que não tem mais valor na prática da nova aliança. Todos os elementos cerimoniais da lei não podem mais fazer parte da vida da igreja cristã, pois apontavam para a realidade superior, que se cumpre em Cristo (Cl 2.16-18). Sábados, festas judaicas, dias sagrados, sacrifícios e outros elementos cerimoniais não fazem parte da prática cristã neotestamentária.

4. Antes de Pregar ou Cantar um Texto do AT é Preciso Entendê-lo. Nem sempre é fácil entender um texto do Antigo Testamento. Muitos textos precisam ser bem estudados, compreendidos em seu contexto e em sua limitação circunstancial e teológica. Veja por exemplo o potencial destruidor do mau uso de um texto como o Salmo 137.9. Se o intérprete não entender que o texto fala da justiça retributiva divina dada aos babilônios imperialistas, as crianças da igreja correrão sério perigo!

5. Devemos Ensinar que Vingança e Guerra não são Valores Cristãos. Jesus ordenou que devemos amar até mesmo aqueles que nos odeiam. A justiça imprecatória não faz parte da Teologia do NT. Há vários salmos que dizem isso, mas tal realidade compreende-se no contexto do AT e não pode ser praticada na igreja cristã. Não podemos cantar "persegui os inimigos e os alcancei, persegui-os e os atravessei" (Sl 18.37.38), quando o Senhor Jesus ordena que devemos perdoar e amar os nossos inimigos (Mt 5.44,45). Hoje já existe até gente “amaldiçoando” outros em nome de Jesus! Teremos uma “violência cristã”?

6. Enfatizemos a Verdade de que a Adoração do NT é Superior. O Novo Testamento nos ensina que a adoração legítima independe de lugar, de monte, de cidade e de outros elementos materiais (Jo 4). Jesus insiste em afirmar que Deus procura quem “o adore em Espírito e em verdade”. A tradição evangélica sempre louvou a Deus por seus atos e atributos. Atualmente estamos cada vez mais enfatizando “o monte santo”, “a cidade sagrada”, “a casa de Deus”, “a sala do trono”. Nós somos o “templo de Deus”. Os elementos materiais poucam importam na adoração genuína. É preciso retomar o caminho correto.

7. Devemos ensinar que ser Judeu não torna ninguém melhor do que os outros. Alguns evangélicos entendem que “ser judeu” ou “judaizado” os torna de alguma forma “espiritualmente melhor”. O rei Manassés, Anás e Caifás eram judeus! Já há quem expulse demônios em hebraico! Em Cristo, judeus e gentios são iguais perante Deus. Na verdade “não há judeu nem grego” (Gl 3.28). A igreja cristã já pecou por seu anti-semitismo do passado. Será que irá pecar agora por tornar-se judaizante? Devemos amar judeus e gentios de igual modo. Além disso, podemos e devemos ser cristãos brasileiros. Não precisamos nos tornar judeus para ter um melhor “pedigree” espiritual.


Luiz Sayão



 
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